Os problemas do trabalho eu deixo no trabalho

Desde muito novo, em verdade no início da minha vida profissional _ e já se vão algumas décadas _ que eu ouço a afirmação que os problemas do trabalho devem ficar no trabalho. Os mais velhos, ricos em experiência e sabedoria, ensinavam que não era certo levar os problemas de casa para o trabalho. A esposa desempregada, os filhos desobedientes, a falta de dinheiro, a sogra... qualquer problema ou situação que porventura pudesse alterar o seu rendimento profissional deveria ser deixado em casa. De igual forma com os problemas do trabalho. As cobranças do chefe, os desentendimentos com algum colega, o cliente rombudo e por aí vai. Os aborrecimentos do trabalho deviam ficar na empresa visto que a família não podia ser penalizada por conta do mau humor, desânimo ou abatimento. Aquela tecnologia que prometia unir e aproximar pessoas é, em verdade, um grande afastador de pessoas. Muitas esposas, maridos e filhos iriam adorar ouvir relatos chateados e histórias sobre o dia: como foi o trabalho, o que fez, o que ocorreu e assim por diante. Mesmo que a história não tenha lá um final tão feliz assim. Mais importante que o tema ou que o enredo é sim a história. É parar para contar, é olhar nos olhos e partilhar com alguém algo do seu dia-a-dia. E tão preciso quanto contar e conversar é ter alguém para ouvir, alguém com quem se possa contar, alguém que ofereça ouvidos e ombros amigos. Em tempos de mensagens via internet, emojis e palavras sem vogais poder ouvir e falar é sinônimo de riqueza, é sinal que você, muito além da sua atividade profissional, sabe tocar uma pessoa sendo apenas um ser humano. Assim levar problemas para casa, desde que você tenha equilíbrio, sabedoria e bondade será, no mínimo, um oportunidade para sentar com quem você mora e contar e partilhar como foi o seu dia. E acima de tudo poder olhar nos olhos e tocar no coração pois as palavras quando bem faladas e bem ouvidas estreitam relacionamentos, aproximam pessoas a fazem frutificar o amor.