Vestuário infanto-juvenil será padronizado utilizando referęncias a partir das medidas do corpo da criança, e năo mais pela idade

Foto: Divulgação |
Maria Adelina, da ABNT: "Novo padrão é uma demonstração de lealdade com o consumidor"

Quando alguém pensa em comprar uma roupa para criança é comum ficar em dúvida quanto ao tamanho. Por mais que as etiquetas dos produtos tragam a referência de idade, nem sempre o tamanho condiz com a estatura e o peso. Isso porque em uma mesma faixa etária é possível encontrar crianças com diferentes perfis físicos. Há as que são mais magras, as que estão acima do peso, as que são mais altas ou baixas. Outro problema é que as confecções costumam utilizar diferentes padrões de modelagem, o que faz com que a numeração das peças varie de acordo com a marca da roupa. Uma proposta da Associação Brasileira de Vestuário (Abravest), que representa as indústrias produtoras de roupas, e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) busca padronizar as modelagens do vestuário infanto-juvenil utilizando como referência medidas do corpo da criança ao invés da idade.

O estudo sobre a vestibilidade das roupas infantis começou em junho deste ano, quando o comitê de vestuário da Abravest procurou a ABNT, que é o foro nacional de normalização de medidas, para fazer uma consulta nacional. “Foi uma demanda das próprias confecções. Muitas indústrias produtoras de uniforme escolar se sentiam lesadas por outras que não produziam roupas de qualidade”, afirma Maria Adelina Pereira, presidente do Comitê de Normalização de Têxteis e Vestuário da ABNT. Ela explica que o modelo vigente no Brasil para identificar as peças infantis é falho porque leva em consideração as fases do desenvolvimento da criança como se existisse uma média padrão. “É só entrar numa sala de terceira série que você vai perceber que nem todas as crianças têm a mesma altura ou o mesmo desenvolvimento.”

A Abravest e a ABNT realizaram durante três meses consultas públicas sobre a padronização do vestuário infantil. Foram ouvidos mais de 1 mil empresários, modelistas, varejistas e consumidores que deram sugestões para a padronização. A Abravest e a ABNT fizeram um conglomerado de 24 medidas corporais sugeridas pelo setor que podem ser acrescentadas ao modelo atual de modelagem. As propostas foram publicadas na norma NBR 15800, promulgada em novembro deste ano. “Essas medidas poderão ser adotadas pelas indústrias e duas ou três delas podem aparecer ao consumidor indicadas na etiqueta”, conta Maria Adelina.

Com a norma, a forma de comunicar as medidas ao consumidor também muda. A proposta é que as etiquetas tragam, além da idade indicada, a estatura mais adequada para cada peça e uma medida referencial. No caso de uma camiseta, pode ser a estatura e a medida do tórax, e nas calças, a altura e o tamanho da cintura. “O novo padrão é uma demonstração de lealdade com o consumidor, porque você está falando para que corpo foi feita aquela roupa”, explica Maria Adelina.

A presidente do comitê explica que a norma é voluntária e que se adapta a ela quem desejar porque não haverá fiscalização. “A tendência é que o próprio setor cobre o uso desses novos padrões.” Ela conta que em caso de licitações para uniformes escolares é possível que a escolha das empresas esteja condicionada à utilização da norma. Para que as confecções se ajustem aos padrões, a Abravest vai entregar as novas modelagens aos seus associados. As fábricas que adotarem as medidas como padrão ganharão ainda o selo de qualidade da Abravest. Já os lojistas vão receber folders com explicações sobre as numerações propostas pela nova norma e os modelos dos moldes. Para Roberto Chaddad, presidente da Abravest, a padronização aumenta a qualidade dos produtos brasileiros e pode até melhorar as vendas. “O varejo está a favor da mudança, principalmente os grandes magazines. Riachuelo, C&A e Pernambucanas já garantiram que todas as confecções vendidas por eles no próximo ano já sairão de acordo com a nova norma.”

A fabricante de roupas infantis Brandili Têxtil já está se adaptando à proposta da Abravest. Quando começaram as consultas públicas sobre a norma, a empresa passou a rever a sua modelagem. “Hoje nosso padrão está de acordo com a proposta, o que temos que fazer são pequenas alterações”, afirma Márcia de Artini, gerente industrial da Brandili Têxtil. Já na coleção primavera-verão, a marca pensa em identificar as peças utilizando, além da faixa etária, as medidas do corpo da criança. “Pensamos em uma etiqueta adesiva que traga informações sobre a altura mais indicada para aquela numeração”, diz.

Com a tendência das fábricas em oferecer etiquetas com informações sobre a altura, cintura e tórax, os varejistas precisarão fazer pequenas adaptações em suas lojas. Uma delas é disponibilizar aos clientes fitas métricas para que eles possam se medir antes de experimentar as roupas. Dessa forma, antes de ir ao provador, o consumidor já poderá saber se a peça servirá ou não – o que faz diminuir o tempo no provador e as filas. Em alguns casos, é possível até que o varejista possa diminuir o espaço destinado aos provadores na loja. “O provador é espaço perdido, onde infelizmente é registrado roubo de peças, roupas ficam sujas com maquiagem ou mesmo são rasgadas. Com essa nova norma, isso tudo fica minimizado”, afirma Maria Adelina.

O novo padrão pode promover ainda uma redução da necessidade de troca das peças e facilitar as compras pela internet, já que pelas medidas do corpo o consumidor conseguirá saber qual é a sua numeração mais adequada para seu perfil, sem precisar vestir a peça. “Nos Estados Unidos a venda de roupas por catálogo e pela internet é muito grande, e com esse sistema que estamos tentando implantar aqui no Brasil, as vendas nesse segmento também podem aumentar”, diz Chaddad. A DeMillus, loja especializada em venda de lingeries, já utiliza as medidas do corpo para orientar suas consumidoras. No site da marca há informações sobre quais medidas devem ser consideradas para avaliar o tamanho da peça mais indicado. Por exemplo, quem compra sutiã pode ter como referência o tamanho do busto e da medida embaixo do busto.

Para que mais empresas adotem o novo sistema, Chaddad acredita que é necessário que o consumidor e os lojistas exijam a padronização. “Chegou a hora do consumidor fazer com que as confecções cumpram a regra espontaneamente”, explica. Ele orienta aqueles que se sentirem lesados com confecções que não atendem aos padrões, que liguem para o Procon, para a indústria fabricante ou para a própria Abravest. Para o ano que vem a Abravest e a ABNT pretendem começar os estudos e a consulta pública sobre a padronização do vestuário adulto masculino e feminino. Além da consulta pública para a padronização do vestuário infantil, as entidades trabalharam juntas na padronização da modelagem de meias em 2008. “Com essas normas, o mais importante é eliminar produtos de baixa qualidade que vêm do exterior com preços baixos e tamanhos que não condizem com o nosso padrão e, com isso, pretendemos ainda ajudar a combater a pirataria”, explica Chaddad.

 Medição dos brasileiros

Foto: Divulgação |
Senai/RJ vai medir mais de 10 mil voluntários de diferentes regiões para padronizar o vestuário adulto

O Senai Cetiqt do Rio de Janeiro começou a realizar este ano uma pesquisa antropométrica para estimar qual é a medida corporal padrão dos adultos brasileiros. A ideia é medir mais de 10 mil voluntários em diferentes regiões do País e, a partir do resultado, trabalhar para uma padronização do vestuário adulto. Para realizar a pesquisa, o Senai comprou um body scanner, aparelho que faz a leitura do corpo humano através de 16 pontos de luz e 32 sensores. O aparelho é uma espécie de cabine, ou provador “câmara escura”, que produz uma imagem tridimensional do corpo no computador e avalia mais de 100 medidas corporais. A pesquisa está sendo realizada no Estado do Rio de Janeiro, onde deve medir mais de 2 mil pessoas, e em março do ano que vem o aparelho deve ser levado a Pernambuco.

A ideia é ter subsídios para trabalhar numa revisão da norma sobre tamanhos e medidas e ter informações para determinar um manequim padrão do brasileiro ou mais manequins que sejam referência. “Não é só ter o manequim padrão, mas você vai ter informações bastante detalhadas sobre o perfil do público que você quer atingir. A indústria poderá otimizar melhor os recursos de matérias-primas e melhorar a questão de logística porque vai mandar para determinadas regiões do País peças de acordo com o perfil da população”, explica Ariel Vicentini, coordenador de tecnologia do Senai Cetiqt do Rio de Janeiro. Para realizar a pesquisa, o Senai conta com uma equipe multidisciplinar formada por especialistas em modelagem, estatísticos, profissionais de educação física e fisioterapeutas que avaliam os dados medidos pelo body scanner. As informações devem ser computadas até o final do primeiro semestre de 2010 e o resultado da pesquisa deve ser divulgado em 2011. “Nós apresentaremos as informações obtidas com a pesquisa para a indústria, mostraremos como o trabalho foi feito e quais critérios foram analisados para que eles apliquem esse conhecimento na fabricação das peças”, afirma Vicentini.

Neste ano, o body scanner já foi utilizado para medir a corporação da Marinha do Brasil e a equipe técnica do Vasco. Em parceria com a Penalty, o Senai Cetiqt ajudou a confeccionar uniformes padronizados para o Vasco de acordo com os diferentes perfis físicos. “Os jogadores se sentiram muito mais confortáveis com o novo uniforme, porque a manga da camiseta estava no tamanho certo do braço deles e o calção mais adequado à cintura”, comenta Vicentini. A satisfação dos jogadores produziu ainda, segundo o coordenador do Senai, até um melhor rendimento no campo. “Desde que eles começaram a usar o novo uniforme, o Vasco não perdeu mais e até voltou para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.”

Gostou? Compartilhe nas redes sociais.